desocupada em tempo integral

odeio o linkedin e tá tudo bem

minha ideia original para a “desocupada em tempo integral” envolvia fazer uma newsletter em parte como resposta aos meus sentimentos sobre o linkedin — e uma parte paga para eu poder me expressar livremente sem medo do rh das empresas que receberam meu currículo. porque eu odeio o linkedin. odeio tanto o linkedin que perco um dia de vida a cada minuto que passo naquele lugar.

normalmente, se eu comentar “odeio o linkedin” pra alguém, a pessoa só vai balançar a cabeça em concordância porque nós nos entendemos. mas, na rara ocasião na qual eu precise me explicar, minha resposta curta sobre por que eu odeio o linkedin seria “eu acho uma rede tão artificial e etc.”, o que seria não apenas uma opinião muito pouco original como dizê-la seria um desperdício de recursos computacionais que poderiam ser utilizados para outras coisas importantes, como fotos de gatinho HD

foto de mimo, meu gatinho, ainda filhote no jardim de vovó cunquinha

então, vamos dissecar essa resposta chocha original em busca de algo mais profundo. na verdade, não acho que artificial seja sinônimo de ruim ou pobre de imaginação. tem um monte de coisas artificiais que são maravilhosas. insulina sintética, animação (as imagens se mexendo, no caso), rosas azuis, as sondas voyager 1 e voyager 21, o disco dark side of the moon da banda pink floyd, a bundinha de mármore do davi de michelangelo, as nanas de niki de saint-phalle2, entre tantos e tantos outros exemplos... mas é complicado quando essa artificialidade deixa um gosto amargo na boca.

vou explicar. no longínquo ano de 2018 parece que foi ontem, quando eu cursei técnico em química industrial lá no ifpe, nossa professora de não lembro o nome oficial da disciplina mas tinha a ver com alimentos fez minha turma provar um monte de sorvete para nos explicar como a composição e os processos da fabricação do sorvete afetavam a qualidade dele. aí, ela nos desafiou a descobrir se os sorvetes de chocolate que a gente estava provando realmente levavam chocolate (cacau) ou um aromatizante artificial sabor chocolate, sem consultar a embalagem.

a dica era que os aromatizantes normalmente deixavam um gosto meio amargo e esquisito na boca lá no final da colherada, enquanto os sorvetes que levavam chocolate só tinham gosto de chocolate. essa besteirinha acabou alugando uma quitinete na minha mente por um tempo, e até passa feriado por lá de vez em quando. a ideia de uma imitação que deixa um rastro indesejável que só vai sumir se você usar a coisa real oficial.

eu não acho que o linkedin ser artificial é uma falha da plataforma. na verdade, ele não funcionaria se não fosse uma rede social extremamente artificial não que as outras não sejam. o linkedin é uma rede social do trabalho no capitalismo tardio. uma rede para dizer que você definitivamente merece existir e você precisa de um emprego e salário para existir e sua existência é muito produtiva e importante, seja no seu emprego atual ou no emprego futuro que você esteja buscando, e isso deixa um gosto meio amargo e esquisito na minha boca.

o linkedin é como o advogado de terno e gravata no verão brasileiro. ele tem uma lagoa de suor no lugar do suvaco e um sorriso no rosto que não temos certeza se é um convite ou uma ameaça. ele é simpático e determinado a criar as oportunidades que precisa nem que para isso precise abolir [censurado pela equipe jurídica do blogue] e matar [censurado pela equipe jurídica do blogue]

não quero fingir que conheci algum momento em que o mercado de trabalho esteve bom, mas esse momento definitivamente não está acontecendo nos dias de hoje. e eu perco dias de vida cada vez que entro no linkedin, pois estou me perguntando se as pessoas estão vendendo a própria alma ou pedindo socorro porque eu estou

mas não podemos descartar a possibilidade de eu estar vendo a situação toda com meus olhos cínicos e sem esperança, talvez haja gente genuinamente feliz ali, às vezes eu postei coisas genuínas no instagram e eu já fui feliz no twitter. talvez eu só me sinta deslocada demais para me identificar com o que está sendo dito. talvez o linkedin não tenha sido feito com pessoas como eu em mente. afinal, o linkedin é a rede das pessoas que trabalham™ e eu sou uma desocupada em tempo integral 💩

fade out, começa a rolar os créditos

divisória fofinha

este é o espaço que eu digo “muito obrigada por ler, um beijo pra você!”. muito obrigada por ler, um beijo pra você! e feliz dia de são valentim, eu acho. 3 se quer me dar mais do que uns minutos do seu tempo, você pode enviar meu bloguinho para outra pessoa que não tenha o que fazer >ω<

este site pode ser seguido por um feed rss e atom. você também pode receber os posts por email. escreva ANNANDA ENVIE SEU BLOGUINHO PRO MEU EMAIL — caixa alta opcional — para annanda.beatriz.carneiro arroba protonmail ponto com que eu mando os textos pro seu email com minhas próprias mões tal qual os antigos romanos…

notas da desocupada

  1. queria registrar que eu acho as voyagers incríveis por estarem andando de boas fora do sistema solar e enviando dados de volta para a gente em equipamento construído antes da minha mãe nascer com um poder computacional ofensivamente menor do que meu celular que trava com o open camera, mas acho meio paia os discos que elas levam com mensagens sobre a terra para possíveis alienígenas etc. etc.

  2. cometi o erro de pesquisar sobre as nanas de niki de saint-phalle enquanto estava escrevendo e descobri que a própria niki ficou doente porque não sabia que estava lidando com substâncias tóxicas durante a criação de suas nanas finja que isso tudo corrobora o ponto do texto por favor eu imploro

  3. esse é o obrigado especial para quem leu até o fim. um obrigado, pessoa que leu até o fim. queria mandar um beijo mais especial ainda para minha amiga maria que leu meu texto passado sobre vidas passadas kkkk quando a parte final ainda era um rascunho meio troncho e me elogiou de um jeitinho que eu fico até sem jeito 🥺👉👈