desocupada em tempo integral

desocupada entrevista: mariana alice gabú

⚠️: este post contém palavrões. não é nada muito pesado não, mas vou avisar porque sou muito gentil

📋: estou usando a momo font de heyheymomo e creditando devidamente porque sou muito responsável.

divisória fofinha

temos uma cientista ao vivo pra falar com a gente!!!!!! é isso que você ouviu vadia hoje beberemos da fonte do conhecimento neste bloguinho!!!!!!! o nome dela é mariana alice gabú e ela é linda e maravilhosa e por acaso é minha amiga

agora vamos falar sério estou entrando no meu modo sério levando tudo muito a sério imparcial jornalístico

mariana alice gabú tem 22 anos e é uma pesquisadora da área da saúde. hoje, ela está cursando o mestrado em ciências farmacêuticas na universidade federal de pernambuco (ufpe), logo após concluir a graduação por lá mesmo. o "logo após" é muito literal, pois ela passou no mestrado literamente antes da maioria das pessoas de sua turma colar grau — e ela foi laureada como melhor aluna na colação de grau com o resto da turma.

em seu projeto atual, mariana alice gabú estuda o uso de nanopartículas de ivermectina em comprimidos de dose única para o tratamento da estrongiloidíase: uma doença muito comum em países de clima tropical e subtropical, como o brasil, e negligenciada pela indústria farmacêutica. ela é orientada por fábio formiga, professor do instituto aggeu magalhães (basicamente a fiocruz de pernambuco) e professor associado da universidade de pernambuco, com quem trabalhou durante a graduação.

sabe como os dois se conheceram? em stories do instagram. sem brincadeira. nossa agora cientista estava desesperada atrás de uma iniciação científica porque todo mundo da turma já estava fazendo e a fiocruz estava divulgando as vagas pelo instagram. sob orientação do professor fábio formiga, ela estudou nanotecnologia aplicada a uma formulação antiviral para o zika vírus, apresentou o trabalho em congressos, viajou, tudo muito chique.

eu conheci mariana no ensino médio porque nós duas paramos na mesma turma do ifpe (instituto federal de pernambuco) e eu gostava dela, mas éramos de grupinhos diferentes. a gente ficou mais próxima no final do ensino médio e mari virou membro oficial do nosso grupinho em 2019. foi tarde, eu concordo, mas sou muito grata dela ser parte das nossas vidas.

nesta entrevista, conversamos sobre partículas pequeninas, a inesperada diversão de mexer em cocô, o papel dos cientistas na sociedade, os livros de ali hazelwood e muitos outros assuntos importantíssimos. o que eu acho meio paia de toda entrevista é que ela é só um recorte da pessoa entrevistada, ainda mais num texto escrito — digitado num dispositivo computacional. quanto mais você conhece a entrevistada, menos você sabe que vai caber ali dentro. e não dá pra colocar anos de convivência numa leitura de vinte minutos.

mas espero que esta entrevista neste bloguinho vagabundo (afetuoso) mostre um pedacinho lindo da mais linda ainda mariana alice gabú. é isto

desenho estilo paint de mariana alice gabú com um microfone do bloguinho. ela tem cabelão cacheado e uma expressão serena

divisória fofinha

a entrevista a seguir foi realizada por mensagem, enquanto mariana ainda estava cursando a graduação, e editada por questões de extensão e clareza etc. 1

Eu só sinto que pessoas comuns pensam muito no macro porque deve ser mais fácil

desocupada 💩: tava pensando sobre o que eu devia te perguntar e percebi que tu e giu 2 são basicamente as cientistas do nosso grupo. você se identifica como uma cientista? discorra. mínimo de 15 linhas

Mariana Alice Gabú 😈: KKKKKKKK rapaz sim, mas não pelo meu curso superior em si. Porque durante a fase do curso em que eu não fazia IC [iniciação científica] nem nada relacionado à pesquisa, não me sentia cientista não. Foi só a partir da IC que comecei a me sentir assim.

💩: o que tu não imaginou que fosse gostar em farmácia ou achava que não ia gostar e gostou?

😈: Eu achava que ia odiar a parte das clínicas, que é mais pra o final do curso. Tipo assim, durante o curso todo de farmácia você tem disciplinas normais: eu tenho imunologia normal antes da imunologia clínica, eu tenho a bioquímica normal antes da bioquímica clínica. E eu entendo o funcionamento do organismo normal de acordo com esses aspectos. Aí, quando chega no final do curso, eu vou observar as alterações considerando as patologias, sabe?

😈: Quando você tem uma patologia, você vai estudar as alterações que essa patologia vai provocar no teu corpo, seja em células do sistema imune, em células do sistema sanguíneo... Aí tem parasitologia que é justamente relacionada ao que os vermes causam no teu organismo. E, de acordo com essas alterações no organismo, você vai saber qual patologia você tá tendo.

😈: Aí achei que ia odiar as matérias e o estágio. Mas são as minhas matérias favoritas atualmente e eu amei muito o estágio também. Gostei muito da área em si e de como tudo tá interligado e como você precisa pensar em tudo pra ter o diagnóstico e tudo mais... É isto.

💩: ah, entendi, entendi…

💩: e o que mais te anima em relação ao mestrado?

😈: Eu gosto muito do meu projeto mesmo porque ele tem uma parte de desenvolvimento farmacotécnico, que basicamente é encapsular as nanopartículas numa forma oral como um comprimido, e a segunda parte é ver se esse comprimido é absorvido pelo organismo, que é o perfil farmacocinético. Daí essa segunda parte de perfil farmacocinético é feita em camundongos e você tem aquela parte de cuidar dos ratos por um tempo. E é uma área que eu sempre quis ver como era, mas na minha pesquisa de IC não dava porque os testes são in vitro.

😈: Mas no mestrado dá pra fazer isso, então estou animada... E, só pra complementar, os projetos do meu prof são muito tipo ciências biológicas sabe, mas esse que eu tô é muito na área de FARMÁCIA mesmo sabe. Ele é de farmácia, mas é prof da UPE, aí muitos alunos dele são de lá e lá não tem farmácia. Aí, dos alunos, só sou farmacêutica eu, Douglas e Lary[ssa Ferreira, outra estudante de ciências farmacêuticas da UFPE3]. Daí gostei que ele deixou o projeto pra mim 🥰 porque sei que uma menina pediu antes e ele disse que era pra mim, acho que porque sou a única de farmácia lá kk.

💩: mariana, como cientista que estuda coisas relacionadas a partículas muito pequeninas, você acha que as pessoas deveriam conversar mais sobre átomos?

😈: Tu fala pessoas comuns ou tipo pesquisadores?

💩: pessoas comuns, mas, se você acha que os pesquisadores deveriam falar mais, sou toda ouvidos...

😈: Não não kskskks, porque eu acho que eles já falam o suficiente msm

😈: Eu só sinto que pessoas comuns pensam muito no macro sabe, acho que até porque deve ser mais fácil de compreender porque você vê e tudo mais, mas o micro acaba sendo mais difícil porque você não vê e consequentemente fica mais difícil de visualizar ou entender.

💩: mmmmmm justo justo

💩: acho engraçado que eu falei a pergunta puramente no meme e agora tu me deixou refletindo

😈: KKKKKKKK Eu fiquei pensando se era meme ou não, mas aí fiquei achando que era sério skdkdkdk

💩: falando sobre meme, teu projeto de mestrado é com ivermectina né kkskkkk tu ouviu piada sem graça sobre isso também?

😈: Até o momento não... Ainda né kk

😈: AH, LEMBREI!!!! Foi um menino da sala de Lary que perguntou sobre o que era meu projeto e daí eu disse que era sobre desenvolver um fármaco a base de ivermectina. Daí ele disse “kk mas isso já não existe?” Eu fiquei 🫠🫠

Acho um saco pesquisar o que todo mundo pesquisa

💩: brincadeiras à parte, acho interessante que teu projeto acaba falando sobre a ivermectina perder efeito com o uso prolongado. e a gente viu que as pessoas tomaram muita ivermectina na pandemia, então tu quer fazer uma dose única pro tratamento da estrongiloidíase. como é criar um remédio levando em consideração que os pacientes podem tomar o remédio da forma errada?

😈: Pô, pior que eu pensei nisso esses dias porque, devido ao remédio ser feito em dose única, ele vai ter uma dose um pouco mais forte do que a formulação que já existe. Beleza que a nanotecnologia vai tentar reduzir isso, mas acho que no final das contas a dose ainda vai ser maior do que a dose atual. E é meio foda porque, além da pandemia, não sei se tu viu... mas o povo tá usando pra dengue agora também e ele não tem efeito comprovado contra dengue Kk

😈: Meio triste, mas eu acho que o farmacêutico é meio culpado em partes por causa disso. Beleza, tem a desinformação, fake news... Mas sinto que se o farmacêutico na farmácia comercial fizesse o seu papel de orientar o paciente, isso se reduziria muito. Porque tem muito farmacêutico dessas farmácias comerciais que só pensam em vender, até porque eles ganham adicional por vendas, eles 'tão tipo “foda-se orientar, só quero que eles comprem...”. Daí é meio merda, mas espero que, se um dia esse medicamento sair, o povo já tenha esquecido da pandemia e da dengue e só use ivermectina pra estrongiloidíase, amém 🙏🙏 kk. Mas é o risco que a gente corre.

💩: outra coisa que eu percebi foi que teu professor trabalha bastante com doenças negligenciadas. isso foi um fator que te motivou a continuar com ele pro mestrado?

😈: Sim, sim, eu gosto dessa parte de doenças negligenciadas e arboviroses e tudo mais, porque a maioria das doenças negligenciadas são parasitoses e eu amo parasitologia. No 3° período, quando tava procurando IC, sempre procurava na área de parasitologia. Eu acho que foram os professores de Parasitologia I que me fizeram gostar, as aulas eram muito boas. Eu também acho legal a parte prática de ver no microscópio os bichinhos, e mexer em cocô na parte clínica... A parte clínica de parasitologia é muito legal porque você tá estudando o que o verme faz no corpo todo, então você vê a bioquímica, a imunologia, a hematologia, tudo relacionado a ele, aí gosto. É isto...

😈: Ah, e eu gosto porque também é uma coisa que geralmente não é pesquisada por ser negligenciada né kk. Porque todo mundo tá muito preocupado com tumor, câncer e tudo mais, e daí acho um saco pesquisar o que todo mundo pesquisa. E é até mais difícil pra inovar e tudo mais... com Julianna [Ferreira, do Departamento de Antibióticos da UFPE4] a gente fazia coisa pra câncer, achava um saco!!!!

💩: como tu pesquisou fármacos pra tratar doenças negligenciadas (zika na iniciação científica e estrongiloidíase agora no mestrado), queria te perguntar se tu sente algum preconceito ou desvalorização por parte do meio acadêmico, ou se as pessoas te admiram muito por isso. ou nenhum dos dois, o pessoal aceita e vai todo mundo procurar a cura do resfriado ou a serotonina 2.0 etc. etc. etc.

😈: Então, no DCFar [Departamento de Ciências Farmacêuticas] eu não sinto diferença de tratamento não. O povo não se importa muito. Mas o povo valoriza demais na Fiocruz, e é o carro chefe de lá, sabe? Meu prof até comentou que às vezes se irrita porque ele quer estudar outras doenças fora as negligenciadas, e o povo lá da chefia fica reclamando e colocando terra no projeto. Tipo tem um projeto dele que é pra produção de sanitizante com o Lafepe [Laboratório Farmacêutico do Estado de Pernambuco] e ele teve que fazer pela UPE porque a Fiocruz não permitiu fazer lá.

Na Fiocruz mesmo, os pesquisadores e professores se sentem muito deuses

💩: eu já vi algumas pessoas do meio acadêmico reclamarem sobre o distanciamento que sentem entre a própria pesquisa e a sociedade. tu tem essa mesma sensação ou tua experiência é diferente?

😈: Tenho, isso ainda é muito presente, e eu sinto que um dos grandes problemas é que o pesquisador simplesmente não sabe falar com a sociedade. Tipo eu vejo muitas contas de divulgação científica no Instagram fazendo umas postagens totalmente não didáticas que só quem é da área vai entender, e olhe lá, né? E, pra piorar, ainda põem na legenda “Ah, pra saber mais veja o artigo tal”, como se gente comum entendesse os artigos científicos. Nem gente da área entende às vezes, quanto mais povo de fora...

😈: E, na Fiocruz mesmo, os pesquisadores e professores se sentem muito deuses, acho que eles até gostam desse afastamento. No DCFar, eu sinto que tem alguns professores que são mais chegados nessa área de divulgação científica, até porque tem a Assistência Farmacêutica que ajuda nisso e tudo mais, mas ainda é muito pouco e o pesquisador simplesmente não sabe falar com a sociedade ainda. É isto.

💩: adoro o jeito que tu fala um monte de coisa e termina com é isto kskkkk

😈: Odkfkrkrkrk

💩: mariana, como cientista, você se sente representada nos livros de ali hazelwood?

😈: KKDKDKDKKDKDJDJ Pior que sim! As pautas que ela traz sobre mulheres na ciências também, sobre falta de espaço e tudo mais. Lá na Fiocruz mesmo pesquisadores homens são a maioria, pelo menos no andar que eu trabalho.

💩: tem um bucadinho nos livros dela (pelo menos o que eu li) sobre financiamento da ciência também, né...

😈: Sim!!!! E tem um livro dela que comenta que o financiamento só favorece quem é grande já, é um ciclo e é muito verdade porque os órgãos de fomento à pesquisa olham o currículo do professor quando tem seleção. Daí a chance de conseguir bolsa é maior pra quem já tem mais artigo e mais reconhecimento.

💩: agora que chegamos em livro de romance de qualidade duvidosa, o que tu mais odeia em livros de romance de qualidade duvidosa?

😈: O não desenvolvimento do casal, tipo amor à primeira vista e similares. Pode ser uma historia mentirosa, mas se o casal tiver desenvolvimento e o livro me explicar o porquê deles se gostarem, eu vou gostar. Agora, se não tiver isso, acho muito ruim.

💩: inclusive isso me leva a próxima pergunta. na tua concepção, o que faz um livro de romance de qualidade duvidosa deixar de ser apenas um livro divertido de qualidade duvidosa e se tornar uma obra prima do gênero?

😈: O desenvolvimento bem feito do casal, uma história bem feita com começo, meio e fim, tudo bem explicadinho, e personagens secundários com histórias legais ou que auxiliem de certa forma a história principal, que não estão lá só por estar, sabe.

💩: voltando pras perguntas sérias. o que tu diria pra mariana de 2034?

😈: Hmmm

😈: Rapaz, não sei. Tomara que você seja rica…

💩: e o que tu acha que a mariana de 2014 te diria?

😈: Te preserva, mulher

É isto

pingue pongue 🏓

🍣 peça de sushi: uramaki

📺 melhor série adolescente de todos os tempos: CSI, as três versões (era o que ela assistia na adolescência)

🦈 filme de tubarão preferido: megatubarão

👶 como nomearia uma criança se tivesse que dar a ela o nome de um fármaco: ivermectina (ou anita se considerarmos nomes comerciais de fármacos)

📖 tipos preferidos de livro de romance de qualidade duvidosa: enemies to lovers (começam inimigos, aí se apaixonam) e fake dating (namoro de mentirinha)

📘 livro de romance de qualidade duvidosa que ela indicaria para pessoas queridas: melhor do que nos filmes

📕 livro de romance de qualidade duvidosa que ela indicaria para pessoas desqueridas: pessoas normais

divisória fofinha

este é o espaço que eu digo “muito obrigada por ler, um beijo pra você!”. muito obrigada por ler, um beijo pra você! se quer me dar mais do que uns minutos do seu tempo, você pode enviar meu bloguinho para outra pessoa que não tenha o que fazer >ω<

este site pode ser seguido por um feed rss e atom. se você não sabe como funciona esse negócio de rss, eu posso te ajudar 5

notas da desocupada

  1. as outras quatro(?) pessoas que leem esse bloguinho e também entrevistam sabem o verdadeiro significado desses avisos. não que eu seja contra editar entrevista, muito pelo contrário, eu não tenho medo de meter a mão na fala dos outros — respeitosamente, é claro. o jeito que a gente fala com a boca é muito diferente do jeito que a gente fala pela internet ou escreve no diário oficial. um desafio especial foi que essa conversa se deu majoritariamente por mensagem e eu tinha que pensar no que manter e o que deixar pra lá. deixar os emojis? sim! letras maiúsculas? sim infelizmente é o jeito que a entrevistada escreve. mas eu mexi bastante na pontuação e estruturação das frases pra não ficar tão distante de uma entrevista convencional.

  2. giu é giullia braga, formada em engenharia biomédica e atual mestranda do centro de informática da ufpe, além de outra amiga nossa. percebi que excluí noss amigo gabriel melo como cientista (e ele é literalmente mestrando de ciência política na universidade de brasília). peço mil perdões. em minha defesa foi porque eu tava pensando na imagem estereotípica de cientista de jaleco mexendo em fio tubo de ensaio etc.

  3. laryssa também foi nossa colega de turma no ifpe sim está tudo conectado

  4. mari fez o estágio obrigatório do ifpe dela lá, foi antes da faculdade kkkkkkk

  5. esse é o obrigado especial para quem leu até o fim. obrigado, pessoa que leu até o fim. queria mandar um beijo mais especial ainda para minha amiga mariana alice gabú por ter aceitado a entrevista e por ser linda e por ser minha amiga também (♥ ω ♥)